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#57 - Rachel Barber: a Vítima Perfeita | CRIMES REAIS

  • Foto do escritor: Rodolfo Brenner
    Rodolfo Brenner
  • 14 de jul. de 2023
  • 7 min de leitura

Atualizado: 16 de jul. de 2023

Rachel Barber parecia ter uma vida dos sonhos: ela era bonita, tinha uma família feliz, um namorado que gostava dela e um futuro muito promissor na dança. Entretanto, ela acabou cruzando o caminho de alguém que queria tomar seu lugar, e para isso, precisava se livrar dela.


Essa é a versão escrita do episódio #57 - Rachel Barber: a Vítima Perfeita:



Rachel Barber nasceu em 12 de setembro de 1983, na Austrália. Ela era filha de Elizabeth e Michael Barber e tinha duas irmãs mais novas chamadas Heather e Ashleigh-Rose. A família Barber era muito unida, e todos sempre pareciam muito felizes. Em 1992 (algumas fontes dizem 1993), a família se mudou para Mont Albert, um subúrbio de Melbourne.

Desde criança, Rachel gostava muito de dançar, e ela realmente levava jeito para isso, tanto que ela decidiu sair da escola para se dedicar totalmente a dança. Na época do caso ela tinha 15 anos era aluna em tempo integral na Dance Factory. Ela também tinha começado um namoro com outro aluno, um jovem chamado Manni Carella. Os dois eram vistos como um casal perfeito, e eram até chamados de Romeu e Julieta pelos seus amigos.

Toda a família de Rachel tinha talento para a música e arte: enquanto ela dançava, Heather tocava violino, Ashleigh-Rose tocava flauta, Michael pintava quadros e Elizabeth era uma escritora. Rachel também tinha familiaridade com a câmera: além de fazer alguns trabalhos como modelo, sua família gostava muito de gravar vídeos caseiros.


Elizabeth com as 3 filhas


No dia 1 de março de 1999, Rachel foi até a escola de dança e teve aulas normalmente. Na volta ela pegou o trem e seus colegas presumiram que teria sido em direção a sua casa, como fazia todos os dias. Seu pai sempre a buscava na estação, mas, naquela noite, ela não apareceu. Apreensivos com sua demora, Michael e Elizabeth ligaram para a escola e para os amigos da filha, mas ninguém tinha visto ela após a aula. Eles conseguiram uma pista com o namorado de Rachel: segundo ele, a garota tinha contado sobre uma proposta de trabalho que tinha recebido, mas que não podia contar os detalhes.

Os Barber tentaram registrar a ocorrência do desaparecimento da filha, mas a polícia estava relutante, dizendo que provavelmente seria o caso de uma adolescente fugindo de casa. Ao começarem uma investigação própria, eles descobriram que a garota tinha sido vista pela sua amiga na estação de trem na companhia de uma mulher de “aparência simples”. Posteriormente, quando a investigação começou, foi feito um retrato falado dessa mulher, e que foi uma pista importante para desvendar o caso. Mas afinal, quem era essa mulher e pra onde ela levou a Rachel?.


Rachel Barber e Manni Carella


A mulher era Caroline Reed Robertson, que 19 anos e trabalhava como supervisora em uma empresa de comunicação. A sua vida era totalmente diferente da de Rachel: ela era quieta, tímida, sofria bullying no colégio e sempre tinha uma aparência triste. Ela também sofria de epilepsia e tomava remédios controlados. Caroline dizia os que ela era feia, gorda e desengonçada. Ela tinha a autoestima muito baixa, se depreciava o tempo todo e dava apelidos para ela mesma como “cara de pizza” por causa da pele oleosa. Ela mantinha um diário e fazia desenhos dela mesma listando as características que não gostava, como o peso, o cabelo e nariz.

Os pais dela haviam se separado depois de muitas brigas e ela ficou morando com a mãe e as irmãs. Sua mãe, Gail, constantemente invalidava o sentimento da filha e dizia não entender o que ela tinha. As duas não se davam bem e estavam sempre brigando. David, o pai, talvez fosse a pessoa mais próxima de Caroline: apesar da separação, ele sempre visitava a filha e tentava conversar com ela. Ela escreveu muitas cartas para ele, sempre dizendo coisas horríveis sobre ela mesma.

A irmã de Caroline era amiga de uma das irmãs de Rachel, e as famílias acabaram se conhecendo. A mãe da Rachel inclusive ficou amiga da mãe da Caroline, e confessava o que estava passando para ela. Segundo o que Elizabeth relatou, ela disse para Gail conversar com Caroline ou talvez levar ela a um terapeuta, mas que ela não fazia muito pela saúde mental da filha.

Caroline acabou indo trabalhar como babá dos filhos dos Barber, e foi nesse tempo que ela desenvolveu uma verdadeira fascinação por Rachel: em seus diários, ela descreveu Rachel como “Extremamente atraente, corpo de dançarina, pele pálida muito clara, olhos verdes hipnóticos, espírito selvagem e livre, apaixonado, charmoso, temperamental, misterioso”. À medida que a garota crescia, a obsessão e inveja de Caroline só aumentavam.

Não fica claro quando, mas certa vez Caroline precisou fazer um trabalho sobre alguém que admirava, e ela escolheu fazer sobre Rachel: ela disse para a garota que achava linda a forma como ela dançava e tirou várias fotos dela. Posteriormente, Rachel contou para uma amiga que Caroline disse que queria ser a sua melhor amiga.


Caroline Reed Robertson


Na noite do dia 28 de fevereiro de 1999, Caroline ligou para Rachel oferecendo $ 100 para participar de um estudo de psicologia que estaria acontecendo no local onde ela trabalhava. Caroline disse que era uma coisa simples, mas que Rachel não poderia contar para ninguém, segundo ela, para não comprometer os resultados. Ela acabou contando para o namorado sobre o trabalho, mas não disse quem tinha oferecido. As duas combinaram de se encontrar no apartamento de Caroline após a aula de dança de Rachel no dia 1 de março.

Caroline ofereceu uma fatia de pizza previamente contaminada com um remédio para dormir, que Rachel acabou ingerindo. Após isso, ela disse para a garota que elas iriam meditar e que era para Rachel pensar em coisas felizes e agradáveis. Aproveitando que a garota estava de olhos fechados, Caroline foi por trás dela e a estrangulou com um fio de telefone. Após o crime, ela colocou o corpo de Rachel dentro de um guarda-roupa, onde ele permaneceu por dois dias.

Enquanto a notícia sobre o desaparecimento de Rachel se espalhava, Caroline aproveitou para ocultar o cadáver: ela envolveu o corpo em dois tapetes e o colocou em uma mala. Depois, ela chamou um táxi e foi até uma fazenda que seu pai tinha. Em depoimento, o motorista disse que a mala era bastante pesada, mas que Caroline teria dito que se tratava de uma estátua. Já no local, ela cavou uma cova rasa e enterrou Rachel em um cemitério onde eram colocados os animais que morriam na fazenda.


Páginas do diário de Caroline


Um dia após cometer o assassinato, Caroline foi trabalhar, mas ela estava visivelmente abatida. Naquele dia ela chegou a passar mal e precisou ir para casa. Ela avisou que tiraria alguns dias de folga e ficou o tempo todo deitada em sua cama. Após alguns dias de investigação, os policiais descobriram que a mulher vista com Rachel poderia ser Caroline e foram até o seu apartamento no dia 12 de março. Naquele momento ela ainda não suspeita, pois a teoria era de que Rachel tinha fugido e eles acreditavam que Caroline saberia para onde. Eles bateram na porta, porém, ninguém atendeu. Como o carro de Caroline ainda estava na garagem, os policiais decidiram arrombar a porta e a encontraram inconsciente no chão do quarto.

Caroline foi levada para o hospital, enquanto o apartamento estava sendo periciado. No diário de Caroline existia um passo a passo completo para o crime: “Drogar Rachel, colocar o corpo em sacos, desfigurar e despejar em algum lugar”. Outros detalhes diziam: "Verifique a fazenda”, “providencie um empréstimo bancário”, “Van de mudança” e “Disfarçar o cabelo". A polícia também descobriu que Caroline tinha um pedido para uma certidão de nascimento em nome de solteiro da mãe da Rachel Barber (algumas fontes dizem que era na realidade no nome da Rachel), além de um empréstimo de $ 10.000.

No dia 13, depois de sair do hospital, Caroline foi interrogada e confessou todo o crime. O plano dela era fugir, assumir a identidade de Rachel e começar uma vida nova. A polícia encontrou o corpo de Rachel em uma cova rasa e ainda com o fio envolta do pescoço.


Caroline durante seu interrogatório


No julgamento, o promotor do caso, Jeremy Rapke, disse que obsessão de Caroline por Rachel teria sido o motivo do assassinato: “Parece provável que o motivo seja encontrado na obsessão da acusada e em seu ciúme da atratividade, popularidade e sucesso”. Foram mostradas várias das cartas que Caroline escreveu para o pai, e pontos relevantes foram apontados como o fato dela querer ser uma atriz e ter fama (assim como Rachel), e de ter sofrido bullying durante todo o período do colégio. Em outro momento, Caroline (Carolyn) diz que gostaria que sua mãe a tivesse abortado. O psiquiatra Justin Barry-Walsh testemunhou pela defesa, afirmando que, embora não fosse legalmente insana no momento do assassinato, ela era uma "mulher perturbada e disfuncional com acentuado distúrbio de personalidade".

Em outubro de 2000, Caroline Robertson foi condenada a 20 anos de prisão pelo assassinato de Rachel Barber. O juiz Frank Vincent disse no tribunal que ela tinha “interesse anormal, quase obsessivo” pela garota e que ela tinha agido de maneira extremamente perturbadora. Além disso, ela foi classificada como “um perigo real para qualquer um que possa se tornar o infeliz sujeito de sua fixação”.


Elizabeth Barber com uma foto de Rachel


Depois do crime, muitas pessoas deram entrevistas, ressaltando ainda mais as diferenças entre Rachel e Caroline. O chefe de Caroline no seu último emprego disse que ela era considerada estranha e que falava muito sobre dança, teatro, fama, e que ela conhecia muitas pessoas nesse ramo.

Caroline ficou presa em regime fechado durante 15 anos. Nesse tempo ela se consultou com psicólogos regularmente, estudou budismo e chegou a se casar com outra prisioneira. Ela ficou presa até 2015, quando conseguiu a liberdade condicional. A saída de Caroline da prisão foi amplamente noticiada na Austrália, principalmente pela sua visível mudança: Caroline tinha emagrecido, pintado e alisado o cabelo e estava visivelmente com outra postura. Ela estava tão diferente que a família de Rachel quase não a reconheceu.

Quanto à saída de Caroline da prisão, Elizabeth disse “Estou realmente muito preocupado com a libertação de Caroline, mas tive que me convencer de que ela se manterá reclusa e não fará mal a ninguém. Quando eu disse que não quero que as pessoas assediem Caroline, isso é para a proteção da comunidade, porque espero que, se ela não for assediada, não reincida. Estou tentando ser corajosa pelas irmãs de Rachel”.

A história de Rachel Barber foi contada no livro “Perfect Victim”, escrito por Elizabeth junto com a jornalista Megan Norris. Em 2009, o livro foi adaptado para o filme “In Her Skin”, que conta com Guy Pearce, Miranda Otto e Sam Nail no elenco. Manni Carella, namorado de Rachel na época, hoje é professor de dança e posta diversas homenagens para ela em seu perfil no Instagram.


Poster do filme "In Her Skin"


• FONTES: All That's Interesting, Mammam!a, The Age, Daily Mail, Bugged Space, Inside Story, DSM-V.

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